II - Libertação - Dezembro de 2010
A publicidade é o meio pelo qual as
pessoas podem saber mais sobre os produtos que estão disponíveis no mercado.
Ela existe como forma criativa de exibir suas características e seus atributos.
Estou solteiro. Disponível no mercado. Não que eu queira alguém para amar e
tudo mais, mas eu queria aproveitar mais a vida, relaxar um pouco com alguma
companhia.
O
fim do ano se aproxima, e não vou poder tirar férias. Katherine, minha redatora
cabeça-dura continuava a me enfrentar todos os dias, e agora conseguia me
convencer das suas propostas. Realmente eram excelentes idéias! Ou não... Não
sei dizer ao certo, mas acabei aprendendo a ouvi-la mais...
Sabe
aquela sensação de que tudo passou rápido demais e que você não se esforçou o
bastante? Lembro do Réveillon do ano passado. Meu pai ainda estava vivo e eu escrevia
meus livros... Naquele dia, ao ver os fogos de artifício atingindo o céu e
explodindo em luzes, prometi que tudo seria diferente, que iria mudar de vida,
que iria lançar meu livro, arranjar uma namorada incrível, sair dessa vida de
lobo solitário.
Tudo
aconteceu tão de repente. Mal tive tempo pra respirar.
-
Petter, você vai fechar a empresa novamente? – Katherine entrara no meu
escritório. Pela primeira vez a vi com seus cabelos soltos. Eram ondulados e
iam até seus ombros. Magnífica – Hoje é véspera de natal, você não vai
comemorar?
Ela
me olhou com um olhar de preocupação. Isso era novidade para mim.
-
Todos já foram? – perguntei.
-
Já. Só falta eu e você.
-
Acho que vou ficar por aqui mesmo. Natal perdeu sentido para mim.
-
Não diga bobagens. – Ela veio até a beira da minha mesa – Não é possível que
você só queira ficar aqui dentro! Vá aproveitar a sua vida! – disse sentando-se
à minha mesa.
-
Você acha que eu queria ficar aqui dentro trabalhando? – olhei para a janela –
Eu não queria essa vida para mim. - Comecei a desabafar – Queria estar bem
longe. Queria apenas um lápis e um caderno. Iria escrever sem parar; talvez
mergulhar em algum livro... Estou cansado... Cansado de tudo.
-
Petter, - ela foi até meu home theater ligou
e colocou um dos meus CDs para tocar. CDs do meu pai. Ele era apaixonado por
dança de salão. Começou a tocar um bolero. Ela estendeu a mão para mim.
-
Quer dançar?
-
Dançar? Estou aqui reclamando de tudo e você querendo dançar...
-
Vamos! Levante-se e saia desse mau humor contínuo! – ela me puxava da cadeira.
-
Eu nem sei dançar isso...
-
Vamos. Eu te ensino. – ri, e acompanhei no ritmo. Pisões no pé... E então entramos
em sincronia.
-
Viu? Nada mal! Você precisa relaxar e mudar sua rotina! – Ela então colocou as
minhas mãos em sua cintura e ficamos dançando dois pra lá e dois pra cá. Ela
estava com os braços ao redor do meu pescoço – Se eu não relaxasse e tentasse
ter uma vida mais tranqüila eu já estaria louca e teria me demitido. Você
precisa de vez em quando se desligar da sua vida profissional e simplesmente
relaxar!
Enquanto
dançávamos, ela me olhava diretamente nos meus olhos. Eu errava os passos, dava
um sorrisinho de “desculpe”. A música parecia não acabar, e fiquei
completamente sem jeito. Meu coração estava disparado, ela deve ter percebido
isso...
- Você está tremendo. – Nossa! Ela
percebeu. Quis sumir de vergonha. – Você é um pouco desastrado sabia?!
Não disse nada. Não conseguia.
Nesses meus 28 anos de vida nunca encontrara alguém tão, tão... Surpreendente!
- Você, sairá já desse escritório e irá
aproveitar essa noite de natal! – a música acabou e nos afastamos.
- Obrigado por tentar me animar, mas
acho que vou ficar aqui, se eu for para a casa, vou acabar brigando com o
Alex...
- Vem comigo então!
- Como assim?! Não vou me infiltrar
na sua família bem no natal!
- Minha família mora do outro lado
do estado, ia comemorar sozinha, sei lá, sumir! Vamos?!
- Você é meio maluca sabia?!
- Obrigada, vou levar isso como um
elogio...
- Já reparou que não brigamos mais?
- Se quiser podemos começar agora! –
disse fazendo uma careta.
- Não, melhor não. – olhei para
aquele sorriso – Ok. Vamos, mas não reclame da má companhia, sou um tédio.
- Chefe, você é sempre chato e
entediante, já te conheço. E quero mudar isso hoje! Vamos!
Fechamos a empresa e saímos. Nevava.
Fomos com meu carro. Decidimos ir até o parque central da cidade. O lago havia
congelado formando uma pista de patinação. Havia uma ou duas pessoas. No centro
do lago havia sido posto uma gigante árvore de natal com luzes que piscavam
tanto que se você olhasse demais poderia ter alucinações! Do outro lado do lago
havia um café-bar onde se podiam ouvir músicas de natal tocando.
- Vamos até lá.
- Ok.
- Mas vamos patinando pelo lago ok?!
- Nem vou comentar...
Ela me carregou. O chão deslizante
estava me deixando aflito.
- Pare de se preocupar, se cair,
levante!
Sorri, e fomos deslizando, rindo e
quase caindo até o fim do lago.
- Sabe... Você não é entediante nem
chato, apenas não tem amigos que levantem seu astral!
- É talvez...
Antes de entrar no café olhei pra
ela e disse:
- Obrigado.
Ela sorriu. Entramos no café-bar.
Estava lotado! Música alta e todos dançavam.
Meu sorriso não se desfez mais.
Pulamos ao som de Jingle Bells remixada.
- Falta 1 minuto para o natal. Está
vendo essas guirlandas penduradas no teto?
Olhei pra cima e deixei-a falar
calmamente.
- Diz a lenda que se você passar por
ela, acaba tendo muita sorte.
Continuava a olhar para cima
pensando no que ela disse.
- Sorte? Não acredito muito nisso.
Acredito é em destino. – eu disse.
- Destino? Eu faço meu destino...
Voltei meu olhar para ela. Ela era
um pouco mais baixa que eu. E então ela me olhou fixo até nossos lábios se
encostarem. A música se esvaiu e nada mais importava. Não sei quanto tempo
fiquei beijando ela. Mas parecia ter sido uma eternidade. Quando nos separamos
ela disse:
- Desculpe por isso... Não era pra
ter acontecido. – ela parecia transtornada – Você é meu chefe, não... Por
favor, esqueça isso, ok?!
- Acalme-se. Está tudo bem. Vamos
continuar a comemorar! Já é natal! – disse tentando mudar de assunto.
Ela então se convenceu e continuou a
festejar. Mas não era mais o mesmo clima. Faltava dizer algo que nenhum dos
dois conseguia. Logo ela se despediu. Insisti para que a levasse até em casa,
mas ela preferiu pegar um táxi.
Cheguei
em casa. Alexandre e a sua família estavam morando comigo, mas aparentemente já
haviam ido dormir. Fui até a cozinha tomar água. Enquanto bebia comecei a
repensar no dia que eu acabara de passar. Uma parte de mim queria muito ter
sumido daquela festa, dizer “me desculpe não era para isso acontecer...”, mas a
outra parte dizia para eu não olhar para trás e que eu seria mais feliz com
ela. Isso era completamente estranho para mim. O primeiro beijo: uma mistura de
todos os sentimentos, sentimentos intensificados, coração explodindo, mãos
tremendo. O mundo pareceu parar e
estávamos olhando um para o outro. Entre a linha do medo e da responsabilidade,
comecei a me perguntar como aquilo havia acontecido. Seria mesmo verdade? Apenas
um dia... Um dia para me fazer olhar para ela diferente. De alguma forma
parecia que sabia tudo sobre ela e que aquilo havia sido apenas um reencontro
depois de séculos separados. Foi uma atração mútua
tão forte, mas que não poderia continuar.
Meus
pensamentos voaram, e quando fui guardar a jarra de água na geladeira vi um
bilhete escrito pela minha empregada.
“Jully
se acidentou,
Hospital
Central.”
Corri para o carro. Meu coração
disparou.
Entrei
no quarto de Jully. Ela estava deitada olhando para Alex. Seu rosto estava assustadoramente
pálido. Ela mal conseguiu falar um “Oi”.
- Não se esforce. – disse Alex à esposa.
- Alex? – Meu irmão pela primeira vez
depois da morte de meu pai, me abraçara.
- O que aconteceu? – perguntei.
- Ela escorregou da escada, bateu a
cabeça e rolou até chegar ao chão.
Jully me olhava triste. Sua cabeça,
enfaixada.
- Mas como ela está?
- Acordou há pouco. Fez alguns exames,
mas não foi nada de mais. O que ela precisa agora é descansar.
- Ok. Vou esperar lá fora.
- Espere, preciso falar com você.
A voz de Jully era suave e me deixou
paralisado.
- Querido, por favor, deixe-nos a sós.
Alex olhou pra mim intrigado e saiu.
- Petter, você marcou a minha vida
sabia? Quando acordei, parece que as minhas memórias haviam acabado de ser
escritas na minha mente. Parece tudo recente. Nós dois sabemos que você foi meu
primeiro homem e eu sua primeira mulher... Preciso te contar algo.
- Fale...
- Você é tudo pra mim. Eu nunca te
esqueci. Desculpe te falar isso, mas é que não queria correr o risco de nunca
poder falar isso novamente. Esse acidente me assustou...
- Jully, acalme-se, o nosso tempo juntos
já passou. É claro que eu gosto muito de você, mas não mais como antigamente.
Será? Perguntei-me. Continuei a segurar
a mão dela até seu choro se extinguir e um sorriso tímido surgir.
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